domingo, 8 de dezembro de 2013

Livros, livrarias e librianos


Era uma livraria imensa: lombadas de todas as cores e tamanhos me observavam enquanto eu caminhava entre as prateleiras. Muitos (a maioria!) pouco me atraíam, mas, pelo contrário, alguns eram extremamente sedutores: uma capa bonita, um título sugestivo ou um nome conhecido me faziam parar e olhar com mais atenção. Um detalhe faz toda a diferença!

Eu estava com pouco dinheiro no bolso e, desde o início, eu sabia que só poderia sair dali com um livro. Apenas um. No meio de toda aquela variedade de opções e tamanhos e formas e cores e cheiros... eu deveria escolher apenas um. Que dúvida cruel!

Eu já estava meio decidido quando pus meus pés ali, mas eu acho que gosto de sofrer. A dúvida me consome até a última gota da minha sanidade. Dizem que isso é um mal dos librianos, mas eu ainda não consigo aceitar que apenas nós, pobres mortais dos meses de setembro e outubro, soframos com tal aflição, com tamanha indecisão. E naquele infinito de livros, dois deles me atraíram desde o início.

Um deles era um clássico da literatura inglesa. Maravilhoso! Digo isso com todas as letras porque ele já esteve em minhas mãos e pude saboreá-lo palavra por palavra. Quantos momentos de prazer! Ele não é um desses livros que logo te chamam a atenção: ele estava escondido lá na penúltima prateleira, com seus delicados detalhes verdes, perto dos inúmeros volumes do George Orwell. Já estava bem desgastado por causa dos anos de manuseio, mas estava com as páginas inteiras, com as letras legíveis. Oh, e quantas palavras bonitas!

O segundo livro era visível lá da calçada, antes de entrar na livraria. Um best-seller, também inglês, colocado bem na entrada da livraria. Aquilo formava uma pirâmide de livros. Era impossível passar por ele e não olhar. O nome do autor chamava a atenção, o layout da capa era atraente e moderno daqueles que poderiam servir para decoração na mesinha de centro e, eu sabia... todos desejavam aquele livro. Todos!

Eu queria os dois, mas... só podia levar um.

O primeiro livro é um daqueles que você guarda num lugar mais baixo da estante porque ele não combina com sua decoração, mas, no dia-a-dia, você sempre recorrerá a ele. Vendo um filme, conversando com uns amigos ou apenas pensando na vida, você vai se lembrar das palavras bonitas e dos conselhos sábios que aquele livro te deu.

O segundo livro não era bem assim: eu teria uma leitura gostosa e ficaria deliciado com o enredo, mas não sei se é um livro que me incomodaria, que poderia me ensinar coisas novas... O seu ponto mais forte era a novidade: o prazer de tê-lo comigo ao meu lado todas as noites, a satisfação de ouvir suas palavras doces, de tê-lo nos meus braços, de folheá-lo e sentir o seu cheiro agradável, de sentir que eu o tinha enquanto outros o desejavam.

Eu não emprestaria nenhum dos dois! Os dois tem importância para mim, mas em medidas diferentes. O primeiro livro seria capaz de me satisfazer sempre: se ele permanecesse comigo pelos próximos vinte anos, eu sei que ainda assim ele teria algo a me acrescentar. Por outro lado, o segundo livro é de um escritor contemporâneo que eu gosto muito e não emprestaria com ciúmes de amassar a capa ou marcar a lombada. Sei que, para o resto da minha vida, vou me lembrar do deleite de tê-lo comigo, dos prazeres íntimos que ele foi capaz de me proporcionar, mas não tenho certeza se ele poderá me dizer muitas coisas depois de um tempo. Tenho medo de não mais gostar dele depois que suas páginas amassarem ou amarelarem quando alguém lhe colocar a mão suja de mostarda.

Tenho os dois na minha mão agora! Racionalmente, a conclusão é óbvia: o primeiro livro é bem melhor; mas meu coração dispara quando eu me lembro do segundo livro e sofro de pensar que terei que deixá-lo para outra hora. Quem me dera não ser um libriano!

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