quarta-feira, 28 de março de 2012

11: o desafio



Eu não deveria estar na internet agora, mas eu não resisto a esse vício. Mas eu prometo que é só mais um pouquinho (a última vez que eu disse isso, fiquei mais 4 horas no computador).

Vim ao meu blog para fazer um daqueles memes que rodam na blogosfera (sinceramente, eu não gosto dessa palavra), que eu encontrei no blog Ella en Palabras e no Uma Janela Secreta. Não fui indicado por ninguém, mas já que eu sou muito atrevido, eu faço sem ser convidado. Na verdade, a internet é terra sem lei, então, ninguém deve satisfação a ninguém. Só não xingue ninguém pelo Twitter, porque isso dá processo... Cala a boca, Lucas!!!

Vamos às regras:

Regras

1. Escrever onze coisas aleatórias sobre você.
2. Responder às perguntas que a pessoa criou para você e criar onze perguntas para os indicados. 
3. Escolha onze pessoas para fazer e indique seus respectivos links.
4. Vá às páginas e avise quem te indicou. 
5. Não taguear quem lhe tagueou.
6. Postar as regras no post.

11 coisas aleatórias sobre mim

1. Amo jujuba.
2. Minha escova de cabelo tem o formato de um corpo feminino nu.
3. Moro na casa dos meus tios.
4. Já experimentei e tentei me acostumar, mas bebida alcoólica não "desce".
5. Acordo de péssimo mau-humor. Preserve a sua vida: não me acorde.
6. Já fui coroinha. Os piores já foram coroinha.
7. Adoro lavar as mãos. 
8. Tenho uma cicatriz na testa. The boy who lived.
9. Os únicos filmes que já me fizeram chorar, eram de animação (Toy Story, Carros, Meu Malvado Favorito, Ratatouille e outros).
10. Já perdi sete molhos de chaves, um celular, um par de tênis (voltei pra casa descalço), uma blusa (voltei pra casa com frio), alguns guarda-chuvas e um irmão. Mas o irmão eu encontrei de novo.
11. Já fiquei 9 meses sem cortar o cabelo, mas, já que o meu cabelo é crespo, ele crescia pra cima. Era uma coisa meio black power. Por quêêêêê? Arrependimento eterno. E ainda reclamava do bullying. 

Perguntas da Babi




1. Se você fosse escolher seu próprio nome, qual escolheria?
Inácio.

2. Qual a sua citação favorita?
"É melhor calar-se e deixar que as pensem que você é tolo, do que falar e acabar com a dúvida." Abraham Lincoln. Essa frase é pra mim, apesar de eu não segui-la todos os dias.

3. Parte do corpo que mais gosta em você.
Olhos e mãos.

4. Um defeito seu que incomoda muita gente.
Em alguns momentos, eu sou extremamente arrogante. Não gosto de ouvir ninguém e não gosto que os outros tentem me ensinar coisas que eu já sei. Não gosto que as pessoas subestimem minha capacidade. Aí, dá problema!

5. Já brigou no colégio/faculdade?
Na escola, eu tinha uns "bate-boca" com algumas pessoas, mas nada muito sério. Aquele "VAI TOMAR NO CENTRO DO SEU C*" não foi nada muito sério.

6. Uma banda que passa os anos e você continua escutando.
Roupa Nova, claro!

7. Um personagem (livro/série/filme/novela/desenho) com o qual se identifique e por quê?
Só um?! Oh, Lord. Vou citar alguns, pode?
Henry Wotton do livro "O Retrato de Dorian Gray" tem opiniões muito parecidas com as minhas, mesmo que não sejam politicamente corretas. Simon da série "Misfits" sempre se lembra do nome de todos. Também somos parecidos em outras coisas. Nina Sayers de "Cisne Negro", assim como eu, é tão insuportavelmente correta e sempre pensa nas consequencias dos seus atos. O Lourenço de "A Vida da Gente" é muito parecido comigo. Muito mesmo, como observou minha irmã. Opiniões sobre filhos, paixão pelos livros... E também já passei por alguns situações pelas quais o Eduardo de "Insensato Coração" também passou. Imagem e semelhança.

8. Sensível ou durão?
Muuuuuuito sensível, mas isso só transparece quando eu permito.

9. Um dom/habilidade que você não tenha que gostaria de ter.
Andar de skate e desenhar.

10. Se você fosse sair com uma blusa que tivesse uma frase, que frase seria?
NERD IS THE NEW SEXY 

11. Um bom lugar para se estar agora.
Dentro do meu quarto. Vem, vem, que eu te encho de Talento.

Perguntas da Celsina






1. E o nome do seu blog, veio de onde?
Risos eternos. Eu me pergunto isso todos os dias. Sinceramente, eu não sei. Devo ter fumado orégano no dia que eu criei esse blog.

2. Quantos livros já leu até agora? E quantos pretende ler esse ano?
Pelo meu Skoob, eu li 127, mas, com certeza, devo ter lido outros mais. Pretendo ler cinco dos meus livros que eu ainda não li e ainda pretendo ler "As Crônicas de Gelo e Fogo", mas isso é plano para as férias. Sonho.

3. Livro ou livros que marcaram e, de certa forma, mudaram sua vida?
São tantos... Mas eu selecionei quatro. "Você está louco!" do empresário Ricardo Semler me fez ver algumas coisas óbvias no sistema de ensino deficiente que nós temos. Por causa desse livro eu também não uso mais relógio. Com "A Hospedeira" da Stephenie Meyer eu comecei a pensar que nossos sentimentos não podem ser reprimidos, já que eles são algo propriamente humanos. "O Caçador de Pipas" do afegão Khaled Hosseini me ensinou sobre amizade, bondade e lealdade. E, por fim, "Ensaio sobre a cegueira" do José Saramago que me abriu os olhos! Não confio nem em mim mesmo depois desse livro.

4. Mocinho(o) ou vilão(a)?
Vilã! E loira!

5. Coisas e pessoas sem as quais não conseguiria viver.
Eu sei que eu posso viver sem televisão, sem computador e sem livros, porque existem tantas pessoas que viveram sem tudo isso por tantos anos, mas eu ia sofrer demais. E as pessoas? Isso é meio óbvio: meus pais, meus irmãos, meus tios e primos que me acolheram na sua casa, meus amigos (novos e velhos) e eu mesmo. Esse último é a pessoa que eu mais amo.

6. Personagem(s) favorito(s).
Tres Navarre do livro "Tequila Vermelha", Ed Kennedy do livro "Eu sou o mensageiro", Dolores Umbridge e Hermione Granger de "Harry Potter", Daenerys Targaryen de "As Crônicas de Gelo e Fogo" e Robert Langdon, personagem dos livros de Dan Brown.

7. Uma viagem inesquecível.
Eu nunca viajo, mas fui uma vez para Ouro Preto/ Mariana - MG (foto acima - arquivo pessoal) e quero voltar outra vez.

8. Sonhos para o futuro (Pode ser as metas de 2012 ou um futuro mais distante).
Concluir meu curso universitário (2015 é a previsão) e seguir minha carreira na área de educação e, quem sabe, arriscar uma carreira literária. 

9. Comida(s) favorita(s).
Carne! Carne em tu-do! Um dia você morre disso!

10. Um livro que mais te fez: Chorar? Rir? Se entregar? Sentir medo? E se surpreender?
Um pra cada? Não entendi direito, mas... vamos lá! Respectivamente, "A Cidade do Sol" do Khaled Hosseini, "Tequila Vermelha" do Rick Riordan, "Se houver amanhã" do Sidney Sheldon, "O Símbolo Perdido" do Dan Brown e "Harry Potter e as Relíquias da Morte" da J.K. Rowling.

11. Se você pudesse ser um super-herói ou personagem, qual seria?
Eu poderia citar diversos personagens do X-Men, mas eu vou optar por um: Noturno. Me livraria da minha vida de ônibus, ônibus e mais ônibus.

Minhas perguntas (risada satânica)


1. O que você faz quando ninguém te vê fazendo?

2. Qual o seu personagem histórico favorito? Por quê?

3. Se a sua vida se transformasse num filme, como se chamaria?
4. Qual era a profissão que você queria ter quando era criança?
5. Qual é o assunto que você acha mais difícil de ser discutido com você (algo que você considera um tabu)? Por quê?
6. Que tipo de música você ouvia na pré-adolescência?
7. O que não pode faltar na sua geladeira?
8. Um personagem de filme/série/livro/novela que você se identifica.
9. Um animal que você tenha vergonha de ter medo.
10. Um lugar onde você já esteve em sonho.
11. Um sonho que já se realizou.

Indicações

Já que eu sou rebelde quando não sigo os demais eu vou quebrar mais uma regra. Não vou indicar 11 pessoas para fazerem esse meme. Então, vou indicá-lo para todos os leitores desse blog. Se você não tem blog, faça uma nota no Facebook. Ou não faça! Ah, faz o que você quiser.

É isso, gente! Estou buscando inspiração para escrever novos textos, viu? Ultimamente os meus textos estão tão perturbadores, politicamente incorretos e (quase) pornográficos que eu estou pensando em procurar uma terapia. Vai ser mais fácil procurar um terapêuta do que inspiração pra escrever sobre morte, sexo e sujeira.

Até mais, gente! 

quarta-feira, 21 de março de 2012

Olhares


A moça estava sentada na lanchonete com uma amiga: sapatilha, bolsa pendurada nas costas da cadeira. A amiga precisou ir ao banheiro para retocar o batom.

De longe, um rapaz notou a moça “desprotegida”. Era o momento que ele aguardava há muitos dias. Tinha ensaiado suas palavras várias vezes diante do espelho e agora era a hora.

Antes de se levantar, ainda hesitou, mas aquilo era necessário para a continuação de sua vida.

Ele se sentou diante da moça e cuspiu as palavras:

— E, então?

— ?

— Como é que fica a gente?

— Como fica a gente?! É... eu... Não tô entendendo!

— É, uai. Tipo, a gente se encontra todos os dias, troca vários olhares... E, aí começa a rolar um sentimento...

— Sentimento?

— É! Essa troca de olhares vai criando um clima, sabe? Você não notou? Te observando todos os dias é como se... é como se eu já te conhecesse, entende? Eu virei meio que seu íntimo.

— Eu nem te conheço.

— Mas é pra isso que eu tô aqui. Eu sei que você também tá amarradona na minha e...

— Amarradona? Eu já disse que eu nem te conheço.

— Mas e os olhares?

— Olhares? Que olhares?

— Você me olha com esses olhos apaixonados...

— Eu te olho como eu olho pra qualquer outra pessoa que aparece na minha frente. Eu não fico te encarando, se é isso que você está pensando!

— Eu não estou pensando em...

— Tira a mão de mim! Eu chamo a segurança. Eu tô te avisando.

A amiga voltou com o batom retocado.

— Vamo’ embora!

— Mas a gente acabou de chegar! — a amiga disse indignada colocando todos os seus apetrechos de maquiagem dentro da bolsa.

— Esse cara é louco.

E deixaram o apaixonado sozinho.

— Mas e os olhares? Os olhares!


domingo, 18 de março de 2012

Carry on


 


 "Mama, just killed a man.
Put a gun against his head,
Pulled my trigger,
Now he’s dead.

Mama, life had just begun,
But now I’ve gone and thrown it all away.

Mama, didn’t mean to make you cry.
If I’m not back again this time tomorrow, carry on.
Carry on as if nothing really matters.

Too late, my time has come.
Sends shivers down my spine,
Body’s aching all the time.

Goodbye everybody
I’ve got to go.
Gotta leave you all behind and face the truth.

Mama, I don’t want to die
I sometimes wish I’d never been born at all."

Trecho da música Bohemian Rhapsody, Queen.

sábado, 17 de março de 2012

Invasão



— Carminha! — uma voz grave me chamava. Sentia o seu hálito bem perto do meu rosto. — Acorda, Carminha!

Uma brisa fresca passou pelos meus cabelos jogados no chão e eu fui tentando focalizar alguma coisa com minhas pupilas dilatadas. O sol se erguia exatamente acima de mim.

— Carminha? Você tá acordando? — O rosto embaçado apareceu na minha frente e tampou o sol claro. Eu estava tonta e minhas mãos estavam sujas de areia. Areia?! Meu Deus!

Eu estava deitada na areia e a brisa fresca vinha do mar. Sentei-me e tentei me lembrar de como eu tinha chegado até ali. Ah, sei lá, não me interessa. Eu estava gostando. O dono da voz ajoelhou-se atrás de mim e começou a massagear minha nuca.

— Não é lindo? — ele disse. — Uma praia deserta só pra nós dois.

— É perfeito! Isso aqui é o paraí... cof, cof! Reynaldo Gianecchini?!

E ele abriu um sorriso largo iluminando o meu rosto. Eu estava numa ilha deserta com o Reynaldo Gianecchini? Procurei por alguma câmera: talvez fosse um novo reality show. Na verdade, não era. Era um sonho, mesmo. Ai, que maravilha! Deixa eu aproveitar, porque amanhã eu tenho que fazer feira, levar a Catarina no oftalmologista... Ah, Carminha, esqueça os seus problemas! Aproveite o sonho.

— É, Carminha, esqueça seus problemas e aproveite esse sonho.

— Você lê pensamentos? Não precisa me responder. Não importa agora.

Quando eu ia dar uma sugestão de passeio, ele me pegou no colo e correu comigo nos braços. Seus cabelos, de uma hora pra outra, estavam molhados e ele estava sem camisa. E de calça branca! O que é isso, meu Deus?

Eu estava curtindo o vento no meu rosto, os braços fortes me envolvendo quando outra pessoa apareceu na ilha. Ele estava de bermuda florida, camisa pólo azul, chinelo e seu rosto tava vermelho por causa do sol. O que esse turista alemão desgraçado tá fazendo no meu sonho? EU NÃO QUERO ELE AQUI!

— Que sem-vergonhice é essa, Carminha?

— Júlio?

— Coloca a minha mulher no chão, seu... seu... Reynaldo Gianecchini?

O Giane — já estava íntima — me pôs no chão.

— O que você está fazendo no meu sonho, Júlio? Será que eu não posso nem... nem... me divertir um pouquinho?

— Espere aí! Não se faça de vítima. Você anda sonhando com o Reynaldo Gianecchini desde quando?

— Como assim? Agora você vai querer comandar até os meus sonhos? Eu sonho com quem eu quiser.

— Isso é traição. Traição em pensamento. E se não for traição, é pecado.

— Pecado? Você virou religioso de uma hora pra outra, Júlio? E você também não é nem um santo: eu sei muito bem que você já andou sonhando com a Déborah Secco!

— Déborah Secco? Quem é essa, meu Deus?

— Não se faça de bobo! Eu sei que você esconde a Playboy dela dentro de uma caixa de sapato!

— Hum... Agosto de 99! O que era aquilo? — E ele ficou com aquela cara bobo dele. — Mas, Carminha, aquilo lá é outra época. Hoje ela tá tão sem graça. Tá um secura. Eu gosto é de carne pra apertar. Vem cá que eu vou te mostrar que eu sou melhor do que esse cara metido a galã.

— Você tá dizendo que eu tenho carnes pra apertar? Você tá dizendo que eu sou gorda? E o que você me diz dessa sua pança de cerveja? Meu Deus, agora eu entendo o que a mamãe disse sobre aquele negócio de príncipe que vira sapo.

— Isso acontece com todo homem. É inevitável!

— Ah, que ótimo! Os homens podem ficar com uma barriga imensa de chope enquanto as mulheres tem que continuar com tudo em cima. Eu amamentei três filhos seus, seu ingrato! Você acha que meu peito murchou porque meu silicone estourou? Eu não sou dessas mulheres montadas que você adora ver nas revistas.

— E eu não sou como esses homens montados que nem esse aí.

— Mas olhe: ele tem tanquinho. Eu nunca passei a mão num tanquinho. Quer dizer, já passei a mão no tanquinho pra lavar suas cuecas.

— Então, fique com ele mesmo. Ele gostava da Marília Gabriela, então talvez ele goste de você.

— Por acaso eu tenho a mesma idade que a Marília Gabriela? Sou muito mais jovem.

Ele riu.

— Se você diz... quem sou eu pra te contrariar.

— Júlio, eu vou...

Antes que eu fizesse alguma coisa, uma sirene me assustou: era um barulho insuportável que entrava no meu cérebro como uma abelha esquizofrênica. A ilha foi se desfazendo, o Júlio se desfez e o Giane...

— Não, Giane! Volta! Deixa eu passar a mão no seu tanquinho. Me liiiiiiiiiiiga!

O rádio-relógio tocava uma música insuportável e o Júlio continuava roncando do meu lado.

— Acorda, Júlio! — eu chamei dando um murro na sua barriga. — Só porque você me falou todas aquelas coisas, você é quem vai levar a Catarina no oftalmologista.

— Quê? Do que você tá falando?

— E NÃO SE FAÇA DE DESENTENDIDO!



quarta-feira, 14 de março de 2012

Mictório


Banheiro da empresa. Banheiro masculino da empresa.

O primeiro que entrou trabalhava ali há uns três anos, mas ainda estava num dos cargos mais baixos da agência. Suas camisas eram compradas numa loja de departamentos do shopping, suas calças e seu paletó já tinham dois anos de uso e seus sapatos... Esqueçam seus sapatos, coitado!

Ele preferia usar o mictório ao reservado: mais prático, mais rápido, menos água. Cada um com seus ideais. Abriu o zíper da calça e fez o que tinha que fazer.

Uns segundos depois, outro homem muito apertado entrou; muito apertado literalmente. Apertado no sentido de necessitado de dar vazão às suas necessidades fisiológicas e no sentido de espremido dentro de suas roupas curtas.

Por mais que ele encomendasse todos os seus ternos, camisas e calças num alfaiate lá do centro, sua barriga crescia em progressão geométrica e nada mais lhe cabia depois de um mês de uso. O uso do mictório nem era uma escolha; os reservados eram minúsculos.

Com dificuldade, tentando mexer os seus braços presos pelo pouco tecido, ele conseguiu arreganhar a braguilha e respirar aliviado.

Os dois ficaram ali em silencio: olhar de peixe morto para a parede, lábios cerrados e a respiração controlada. No mictório existem mais regras de etiqueta do que num jantar real. E qualquer erro pode ser fatal.

O primeiro era subordinado do segundo, mas ali eles não se conheciam; o seu chefe até preferia que nenhuma palavra fosse trocada. Era melhor que deixassem assuntos inúteis para a hora do cafezinho. Ali, os olhos não podiam se desviar um centímetro sequer.

O de terno surrado terminou primeiro, fechou o zíper e não lavou as mãos. O de vestuário exclusivo até preferiu que o outro saísse primeiro: além de não conseguir mover seus braços dentro daquele terno — que, no momento de aperto, se tornava uma camisa de força — precisou fazer um exercício com o diafragma para diminuir a barriga e fechar a braguilha. 

sábado, 10 de março de 2012

Pés cansados



Fui pra cama com os pés descalços, o coração palpitante, as mãos inquietas e os olhos baixos para não fitar nenhum dos meninos. Eram oito horas da noite quando todas as luzes foram apagadas e todos os doze meninos alojados naquele quarto pegaram no sono. Era a única vez no dia que eu tinha a oportunidade de ficar sozinho: só eu e meus pensamentos. E, hoje, nós dois tínhamos muito que discutir.

A minha decisão já tinha sido tomada há alguns dias; veio como um tiro certeiro no meu cérebro e, mesmo depois de muito esforço, eu não consegui extrair aquele projétil daqui de dentro. Pensei que talvez alguém pudesse me ajudar, mas, como eu já disse, aqui dentro era impossível ficar um minuto sem ter ouvidos ao seu redor.

Pensei em falar com um dos meninos, mas eu não nunca tive muitas amizades aqui dentro. Ernst era uma pessoa muito agradável, mas ele nunca conseguiu deter a sua língua grande — e isso já lhe rendeu diversas advertências e penitências; ao contrário de Ernst, Hans era minimalista com suas palavras, mas se eu lhe dissesse sobre meus desconfortos, ele provavelmente me daria uma grande lição de moral, e isso não me reconfortaria; minha última opção era Tobias, um alemão de 18 anos muito sutil em suas colocações, mas ele nunca estava desacompanhado.

Todas as alternativas descartadas.

Num momento de delírio, eu pensei que eu pudesse procurar aconselhamentos com um dos padres; algum deles certamente me ouviria e ainda estaria sob o juramento sagrado de guardar segredo. Eu pensei em diversos nomes, mas todas as vezes que eu me imaginava ajoelhado ao lado do padre no confessionário, a cena terminava do mesmo jeito: o padre se levantaria e gritaria aos quatro cantos que aquilo era um insulto à Santa Igreja.

Eu me senti sozinho.

A única pessoa que poderia me ajudar naquele momento, que me ouviria e tiraria aquela ideia absurda da cabeça, estava agora dentro de um trem a caminho da Áustria. Ou, pelo menos, era isso que tinham me dito. A Áustria agora parecia ser outro mundo, outra dimensão.

Eu estava sozinho.

A minha ideia foi tomando conta do meu cérebro como um tumor maligno e já não era mais possível removê-lo. Não havia ninguém para escutar-me, dar-me uma palavra de apoio, dizer que eu estava errado e que tudo ficaria bem.

Ninguém sentiria minha falta.

Esses pensamentos foram comigo para a cama naquela noite. Mesmo que eu já tivesse me acostumado com aquilo, dentro de mim ainda vibrava uma sensação estranha: não conseguiria dizer se aquilo era agradável ou não; o meu peito se agitava de medo e ansiedade. E a decisão tinha sido tomada.

Eram três e meia da manhã e, daqui a pouco, todos estariam acordados se preparando para a primeira meditação do dia antes do desjejum. Levantei-me vagarosamente, pisando leve no assoalho de madeira, peguei uma vela, o terço de dez dezenas e uma foto amarelada debaixo do meu travesseiro.

Com muito cuidado, saí para o frio cortante da noite; eu estava apenas com uma camiseta sem mangas e uma calça de moletom. O ar congelava quando saía pela minha boca.

Quando cheguei à pedreira, a corrente do mar atingiu em cheio meus pulmões. Depois de chegar ali, não podia mais hesitar; dei uma última olhada para as torres da igreja — o sino lá em cima — e enrolei o terço na minha mão. Beijei a foto e coloquei-a junto ao meu peito antes de pular para o abismo escuro que se abria debaixo de mim.